Évora recebe mais uma vez, o (a)Riscar o Património – Heritage Sketching, e desta vez, sob o tema “Comunidades e Culturas” o local escolhido para desenhar é a Cerca Velha.
PROGRAMA
10h00 Encontro no Jardim dos Colegiais/ Breve informação sobre o tema;
10h15 Início dos trabalhos;
13h00 Almoço livre;
14h30 Retoma dos trabalhos;
17h30 Fotografia de grupo e Partilha de desenhos;
18h00 Final do Encontro.
Anfitrião: Luís Ançã
A chamada Cerca Velha constituiu a primitiva cintura defensiva da cidade. Construída inicialmente durante o Império Romano (eventualmente no séc. III) foi sucessivamente ampliada e alterada, evidenciando diferentes fases construtivas, e o seu traçado actual datará predominantemente do período islâmico (séc. VIII-XII).
Em meados do séc. XIV, aquando da construção da Cerca Nova, a antiga muralha perdeu a sua função defensiva. Na vertente norte da colina da cidade situava-se o Castelo Velho, inicialmente a alcáçova islâmica, desativado no séc. XV e atualmente ocupado por diversos monumentos, como o Convento dos Loios, o Palácio de S. Miguel, o Paço Cadaval.
No séc. XIV a Cerca Velha tinha 1200m de comprimento, seis portas (Porta D. Isabel, Porta da Traição, Porta do Sol, Porta de Moura, Porta da Selaria e Porta Nova) e um postigo. Subsiste apenas a primeira porta referida e a da Traição (oculta no antigo convento dos Loios) e postigo (antigo edifício do Grémio da Lavoura).
O embasamento e as fundações da cerca são constituídos em grande parte do traçado por silhares regulares de tipo romano, provavelmente reutilizados no início da Idade Média. O pano adjacente ao convento dos Loios apresenta este tipo de silhares e tem cerca de 2,10m de espessura.
Os vestígios da cerca subsistem no interior de edifícios, sendo visíveis em estabelecimentos comerciais, por exemplo, assim como no embasamento de imóveis. É particularmente visível no jardim dos Colegiais e na base do jardim Diana, nas portas de Moura e de D. Isabel, e em diversas torres (destacando-se a das Cinco Quinas, dos Capitães do Anjo, Sisebuto, Salvador).
Circunscrevendo cerca de 10 ha, esta cintura muralhada delimita hoje a cidade alta e articula-a com a restante cidade intramuros. A primeira, de ocupação mais antiga, onde se evidencia ainda hoje o traçado romano em quadrícula, foi a sede do poder político e religioso e a localização das residências da nobreza, e é atualmente ocupada com importantes monumentos (vestígios do fórum romano / templo, Sé-Catedral), grandes edifícios, serviços e equipamentos públicos (Paços do Concelho, Museu de Évora, Biblioteca Pública, Fórum Eugénio de Almeida, Serviços da universidade, Direcção Regional da Cultura do Alentejo, CTT, PT e EDP) espaços públicos e espaços abertos generosos. A restante cidade, formada a partir dos antigos arrabaldes medievais, tinha um caracter mais popular e mercantil.
Após a perda da função defensiva os materiais de Cerca Velha foram reutilizados noutras construções, mas esta serviu também de suporte para a construção de edifícios. As torres foram doadas e utilizadas como residências da nobreza, estando na origem de numerosas casas nobres e palácios.
A antiga cintura defensiva constituiu um importante elemento estruturador do espaço urbano de Évora, gerador da sua forma urbana. Com efeito, os caminhos que partiam das antigas portas foram a base das principais artérias e eixos radiais da cidade: o espaço urbano contínuo que a circundava no exterior constitui actualmente uma “primeira circular” interior do casco urbano; os largos e terreiros adjacentes às portas da muralha constituem hoje os principais espaços públicos da cidade – a Praça do Giraldo (antigo Rossio), a Porta de Moura e a antiga Porta Nova (actual Largo Luís de Camões).
Parte dos antigos fossos (alcárcovas) foram ocupados com as “casas dos arcos”, actuais arcadas, destinadas aos mercadores, dando forma ao eixo comercial mais importante da cidade, paralelo à Cerca Velha.
Concluindo, a Cerca Velha destaca-se no contexto do Centro Histórico de Évora, não tanto pela sua monumentalidade, mas pelo modo como influiu no crescimento e consolidação do espaço urbano intramuros e de como foi apropriada pela comunidade nas suas múltiplas valências e reutilizações.